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Nem Jesus na causa! Nova novela bíblica da Record começou muito mal

Chico Barney

25/07/2018 19h46

(Foto: Divulgação/Record)

Fazia tempo que uma novela bíblica da Record não atraía tanta atenção. A ideia de recontar a história de Jesus como um folhetim é adorável: trata-se de uma saga plenamente conhecida, que inspira as pessoas até hoje. E todo mundo fica curioso para saber como será o desenvolvimento por parte da emissora.

Caso algum telespectador incauto tenha ligado a TV minutos mais cedo, pôde ter uma prévia do que esperava por ele. O último capítulo de "Os Dez Mandamentos" estava sendo reprisado, desfilando maquiagens tenebrosas, lutas pessimamente coreografadas, texto enfadonho e atuações caricatas. Nada melhorou muito de 2015 para cá.

O capítulo de estreia abriu com um spoiler sobre a reta final da trama, com Jesus sendo crucificado. Não que fosse um fato terrivelmente desconhecido por parte da audiência, tudo bem, e pelo menos indica que pretendem ser fiéis ao livro. Mas há de se concordar que a cena é uma das mais impactantes e cheias de significado para a história que pretendem contar. Chutá-la dessa forma, como se fosse o trecho de um videoclipe violento do Nickelback, acaba esvaziando todas as interpretações que a passagem merece.

O que se viu a seguir foram cenas lamentáveis, replicando todas as más práticas vistas minutos antes no final de "Os Dez Mandamentos". Os cenários parecem realizados por jogadores profissionais de Minecraft, o que quer dizer que são bastante complexos e detalhados – mas ainda parecem Minecraft. A direção também não ajuda, com planos e ângulos saídos da cabeça de alguém que possivelmente não acompanha produções audiovisuais desde algum ponto dos anos 80. A fotografia é bonita, contudo.

Dentre as atuações, a atriz Juliana Xavier empreende uma defesa bastante honrada de Maria, futura mãe virgem de Jesus. Outro destaque, aí já cruzando com os contornos mais psicodélicos da aventura, é a presença de Paulo Cesar Pereio no papel de Simeão, que narra trechos da Bíblia para um imberbe Barrabás. Os elogios não vão muito além disso.

Paulo Gorgulho interpreta Herodes como se fosse Caco Antibes em um vídeo de ASMR (em português, Resposta Sensorial Meridiana Autônoma, o chamado "orgasmo mental", quando palavras emitidas em determinado tom causam sensações agradáveis no amigo ouvinte). Ex-astros de Malhação, como Alexandre Slaviero, também capricham nos sussurros de voz grossa para deixar claro que estão fazendo personagens bíblicos.

Como derradeiro ponto positivo, faço questão de frisar que é ótimo rever Maurício Mattar atuando longe das frituras da Batata Show. O ator e cantor deixou o banquinho e o violão de lado para interpretar o pai de Maria, um sujeito contemporizador e aparentemente um fundador de uma das mais longevas religiões da humanidade, a "turma do deixa disso".

Ele voltou (Foto: Reprodução/YouTube)

Com ritmo esquisito e roteiro confuso, seriamente prejudicado por direção e atuações, não consigo ver um futuro brilhante para a novela. Quem pretende continuar acompanhando "Jesus", sinto informar, vai precisar de muita fé.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002