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"Masterchef" virou rodízio: o garçom ainda insiste, mas estamos satisfeitos

Chico Barney

21/08/2018 09h25

(Foto: Reprodução)

O rodízio de churrasco está entre as modalidades gastronômicas mais fascinantes da cultura brasileira. Garçons passeiam pelo salão ostentando todas as carnes da casa, com o auxílio de uma mesa exibindo farto buffet com acompanhamentos. Reza a lenda que o popular espeto-corrido foi criado pelo gaúcho Albino Ongaratto durante os loucos anos 60, em uma churrascaria de beira de estrada em Jacupiranga, interior de São Paulo.

A origem de tão importante instituição nacional teria ocorrido graças a uma confusão. Um garçom com tino para figurante dos Trapalhões armou o maior forrobodó ao servir de maneira equivocada praticamente todas as mesas do restaurante, que recebia romeiros da festa de Bom Jesus de Iguape. Como a necessidade é a mãe da invenção, Ongaratto resolveu oferecer todos os espetos a todas as mesas, ideia que foi evidentemente muito bem recebida pelos famintos religiosos.

Um dos efeitos mais comuns ao frequentar esse tipo de estabelecimento é o sentimento de exagerada saciedade. Com a recorrente aparição dos garçons à mesa, uma irrefreável condição de ter os olhos maiores que a boca nos invade. Come-se muito, come-se rápido. Não é uma degustação, é o mais desavergonhado culto à gula.

A Band é o garçom, o pão de alho é o Masterchef e nós, pobres telespectadores, somos a relutante senhorita (Foto: Divulgação/Filme "Espeto Corrido")

O Masterchef não surgiu em Jacupiranga, mas no Reino Unido. Importado para o Brasil pela Band, com a pompa e circunstância de um wagyu, está passando por um processo muito parecido ao das churrascarias rodízio que fazem a festa das rodovias país adentro. Com diferentes temporadas da competição exibidas praticamente sem intervalos ao longo do ano, a verdade é que já estamos todos satisfeitos, mas o garçom segue oferecendo as opções que conhecemos de cor e salteado.

É a mesma apresentadora, o mesmo trio de jurados e a mesmíssima mecânica. Já sabemos que Ana Paula Padrão vai fazer a contagem regressiva e quase perder a voz enquanto pede para os candidatos finalizarem os pratos. Também não há dúvidas de que Paola Carosella vai tecer comentários cruéis com um olhar lânguido que despertará sentimentos contraditórios nos telespectadores. Fogaça fará o possível para encarnar o bruto de alma sensível. Jacquin precisará de legendas.

O espeto-corrido de Masterchef nasce também por um momento de necessidade. Sem grana para investir em outros formatos, com praticamente nenhum outro programa bem estruturado em sua grade, a Band partiu para o tudo ou nada com sua última fonte de relevância comercial e artística.

A carne oferecida nesse rodízio já não é mais de primeira qualidade. Quem se aventurar a assistir à estreia de Masterchef Profissionais hoje à noite tem grandes chances de encontrar pizza, sushi e feijoada no buffet de acompanhamentos, deixando tudo ainda mais indigesto.

A vigésima sétima temporada do Masterchef Brasil estreia hoje (Foto: Carlos Reinis/Divulgação)

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002