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Netflix imita a Globo com "Você Decide" em "Black Mirror"

Chico Barney

28/12/2018 18h56

Foto: Reprodução

Com o sucesso de videogames, além RPGs como "Dungeons & Dragons" e "GURPS", a indústria especializada em imprimir bobeiras em papel marcou uma geração com os livrinhos ao estilo "Choose your own adventure" –"escolha sua própria aventura", em tradução livre para a língua de Camões.

Em determinados pontos de um roteiro concebido por nerds razoavelmente inteligentes, o amável leitor poderia tomar decisões pelos personagens. Cada decisão o levaria para essa ou aquela página, dando rumos inesperados à trama. Alguns títulos foram lançados no Brasil, rendendo até uma versão em quadrinhos com "Os Trapalhões". Foram duas edições com aventuras em que a criançada decidia os rumos de Didiana Jones contra dinossauros e na busca por um ioiô sagrado. Coisa fina.

Foto: Reprodução

Apesar da interatividade limitada apenas ao final das histórias, o "Você Decide" foi um programa da Globo marcante nessa onda democrática que varreu o mundo durante a década de 1990. A audiência escolhia entre duas opções previamente estabelecidas, e repórteres espalhados pelo país aproveitavam para interagir ao vivo com a massa que assistia à atração em telões instalados por várias cidades.

A Netflix imita o conceito, mas aproveita as possibilidades da conexão à internet para oferecer mais pontos de decisão ao telespectador do especial "Bandersnatch", uma produção da série "Black Mirror". Ao longo de toda a jornada, o assinante da plataforma de streaming encontra muito mais oportunidades para se frustrar do que os finais do saudoso "Você Decide".

A atração inglesa faz sucesso ao se posicionar como uma crítica social inteligente à relação dos seres humanos com a tecnologia, mas recorre a um alarmismo barato que remonta ao medo de olhar no espelho e acabar tendo a alma tragada pelo gadget analógico.

Nesse sentido, a oportunidade de direcionar os desdobramentos da história em "Bandersnatch" é mais um tiro de espoleta que tem muito mais a ver com marketing do que bom entretenimento. Os realizadores da obra querem apenas ver seus tweets dizendo que "isso é muito Black Mirror".

Se eu pudesse decidir por você, amigo leitor, certamente escolheria dedicar minhas horas de lazer ao enfrentamento de uma longa fila para chegar até a praia mais próxima.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002