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Maurício de Sousa expõe problemas da DC em encontro com Liga da Justiça

Chico Barney

29/12/2018 10h17

Foto: Reprodução

A DC está fazendo história ao fracassar nas mais variadas mídias. É uma hecatombe estética na televisão, passa vergonha nos cinemas, trava a fita nos videogames e tudo isso com origem em gibis de gosto bastante duvidoso. O único personagem que consegue passar razoavelmente incólume pelo banho de chorume é o Batman, talvez por parecer mais uma criação da Marvel do que outra coisa. Mas tergiverso.

Como faziam antigamente os artistas internacionais em momentos deprimentes da carreira, calhou da Liga da Justiça vir para o Brasil. Depois de tomar uma surra nas bilheterias, fazendo até menos dinheiro que o filme do Doutor Estranho, a trupe de Superman, Batman e Mulher-Maravilha está nas bancas em uma série de revistas ao lado da Turma da Mônica.

É algo que os nerds dos anos 1990 chamavam de 'crossover'. Marvel e DC fizeram milhares de vezes, pois as contas não param. Chegaram até a inventar um filhote do Batman com o Wolverine, o pavoroso Dark Claw –ou Logan Wayne, para os íntimos. É uma longa história que não convém contar aqui, talvez explique melhor em uma outra oportunidade.

Criado em laboratório (Foto: Reprodução)

Pretendo me ater às seis histórias que estampam as edições de dezembro da linha Maurício de Sousa Produções pela Panini, e à forma como demonstram as principais fragilidades criativas da DC Comics.

Foto: Reprodução

"O Plano Infalível e a Lanterna Verde" (Mônica nº44) – Cebolinha engambela Lanterna Verde, fazendo o militar norte-americano acreditar que a Mônica é a vilã Madame Dentuça Cósmica. Depois de enjaular a pobre menina, o herói ainda é esculachado pela Mulher-Maravilha e toma uma sova do Capitão Feio.

Cada página parece querer deixar claro que o Lanterna é um personagem ridículo. Em um plot twist dos mais pedestres, Hal Jordan revela que tudo não passou de um estratagema para fazer com que Cebolinha e Mônica se tornassem grandes amigos –mas não enganou ninguém com esse discurso de derrotado.

Foto: Reprodução

"Eu trabalho sozinho" (Cebolinha nº 44) – A melhor história da safra, tanto no roteiro quanto na arte, que em alguns momentos emula o desenho animado do Batman de 1992. Bruce Wayne está no bairro do Limoeiro em busca da Arlequina, que invade o bizarro jantar dançante que o playboy de Gotham City oferecia ao pai do Cebolinha.

A namorada do Coringa sequestra Marina, e usa o lápis mágico da menina para desenhar várias cópias do seu amado. Cebolinha, Cascão e Mônica homenageiam os diferentes Robins que o homem morcego teve ao longo da vida, com direito a citação ao clássico "Cavaleiro das Trevas" (de Frank Miller, claro, não a bomba cinematográfica de Christopher Nolan).

"O Mestre dos Mares" (Cascão nº44) – Aquaman e Cascão juntos, pois o único traço de personalidade de ambos é a relação com a água. Como dizem os jovens, "gado demais"! Ou será cardume?

"Muita fome para muita velocidade" (Magali nº 44) – Uma ótima história que brinca com a gulodice da Magali de um jeito bem criativo. A menina fica revoltada ao notar que tem alguém detonando o acervo alimentício de todas as padarias e mercadinhos da região. Logo descobrimos que trata-se do Flash, que sente muita fome por gastar muita energia em seus sprints heróicos.

Mas a aventura expõe uma das principais dificuldades de um leitor da DC: a completa bagunça cronológica. Aqui aparece um Batman que não tem nada a ver com o personagem mostrado no gibi do Cebolinha –até a fantasia é diferente. Além disso, nesta história o Coringa está solto, enquanto na aventura anterior ele encontrava-se confinado no asilo Arkham. Lamentável!

"Esperança" (Chico Bento nº 44) – Chico Bento ajuda Superman e Mulher-Maravilha em uma investigação que eu chamaria de bastante infantil. Talvez seja esse intuito dos criadores, uma vez que é um gibi para crianças. Mas não deixarei os fatos me calarem. No mais, a história tenta passar uma mensagem positiva, colocando Bento em uma posição heroica simplesmente por fazer a coisa certa. Considero a história mais frustrante da série.

"O Níver" (Turma da Mônica nº 44) – Uma paródia sem eira nem beira de "Para o homem que tinha tudo", clássico do Superman escrito por Alan Moore, reconhecido como o mais importante autor de quadrinhos.

Maurício de Sousa em pessoa leva suas crias para a Fortaleza da Solidão no intuito de comemorar o aniversário do Superman. Chegando lá, o azulão foi dominado pela planta malvada do Mongul, exatamente como no gibi de Moore. A partir daí, os personagens de Sousa passeiam por uma infinidade de versões dos universos DC, mas só quem é muito nerd vai captar todas as referências.

Outro problema é que elas não tem graça nenhuma, assim como o material original. Um triste espetáculo.

Se eu aprendi alguma coisa depois de todos esse anos lendo as obras completas da turma da Mônica, certamente a mais importante foi "muito cuidado com as companhias". A molecada do bairro do Limoeiro precisa abrir o olho.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002