Absurda e sem sentido, "A Dona do Pedaço" é uma novela imperdível
Dei um Google no termo "instinto" e encontrei uma simpática definição por parte de Ana Lucia Santana, mestre em Teoria Literária pela USP, no site da InfoEscola: "do latim instinctu, é algo inato ao ser vivo, um tipo de inteligência no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem um grau mais elevado em sua trajetória pela vida, nas suas ações, visando justamente a preservação do ser."
Tive essa iniciativa depois de ver o capítulo de segunda-feira da novela "A Dona do Pedaço". Walcyr Carrasco está despertando em mim os instintos mais primitivos. A novela fica mais absurda a cada dia que passa, com cenas e situações absolutamente estapafúrdias. De tão pitoresca, se tornou um programa imperdível, obrigatório. Deve ter algum algoritmo na jogada.
"Os instintos são adquiridos nas experiências vividas, no confronto com determinadas situações e nas respostas a elas, e então herdados pelas gerações posteriores", continua a explicação de Santana. Acredito que eu e tantos brasileiros nos encontremos prostrados em nossos sofás pelo fascínio com o desconhecido. As propostas de interação humana apresentadas por Carrasco toda noite são tão longe de qualquer realidade registrada que algo em nossa mente busca assistir para entender, estudar e construir meios de proteção contra tudo aquilo.
Maria da Incapaz, nossa querida protagonista, perdeu tudo depois de negar as evidências de que a filha era uma crápula. De maneira indolente, gastou uma dinheirama com coisas sem necessidade e ainda passou tudo para o nome da perigosa Josiane –até o marido. Depois de pegá-los no flagra e dar um tirambaço no ombro do rapagão, foi na mansão herdada pela filha para contar alguns spoilers da novela, como se tivesse folheado alguma revista na banca.
Reenergizada pelo papo insólito, a empreendedora do absurdo resolveu retomar o trabalho. Outrora comandante de um império com várias franquias, botou a mão na massa para dar a volta por cima. Todo mundo ainda lembra muito bem que Incapaz foi responsável por cada um de seus fracassos, então fica difícil torcer por esse sucesso. Mas tudo bem.
O ápice da bizarrice, e aí acho que Carrasco se diverte muito às nossas custas, foi a última cena. As amigas da protagonista entram afobadas na cozinha, veem que ela está batendo um bolo e perguntam: "o que você está fazendo?", ao passo que ela continua batendo o bolo, dá um olhar esperançoso rumo ao oblívio e dá o arremate: "estou fazendo um bolo". Close dramático e fim do capítulo.
Não dá para dizer que é a melhor novela que já foi feita, nem que é a pior. Mas certamente é a que brinca com mais facilidade com os sentimentos e emoções do cidadão. "É determinante para a conservação da raça humana a existência do instinto, pois ele nos motiva a agir quando necessário", escreveu Ana Lucia Santana. A mestra e a raça humana que me perdoem, mas eu simplesmente não consigo mais mexer no controle remoto.
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