Topo

Não dá mais: bons motivos para abandonar "Segundo Sol" de vez

Chico Barney

05/09/2018 09h32

"Segundo Sol" vai se aproximando do centésimo capítulo e está pior do que nunca. Os diversos problemas que a novela apresentou ao longo dos primeiros meses tiveram momentos de descanso, mas sempre retornaram com intensidade periclitante. Convidamos o blogueiro Chico Barney, especializado em cultura muito popular e autor do Blog do Chico Barney no UOL, para dar seu testemunho sobre os motivos que o levaram a desistir da novela.

Dramas Reais: Por que eu desisti de "Segundo Sol"

(Foto: Reprodução)

"Sou um homem de poucos vícios. Gosto de apostar em lutas de boxe amador, seguir bailarinas do Faustão no Instagram e beber Campari sem gelo. Tirando isso, a única outra coisa que posso confessar sem ter maiores problemas com a lei é meu grande entusiasmo por novelas da Globo.

Nem sempre é fácil manter esse hábito em dia. Trata-se de um comprometimento de 6 noites por semana, um uso muito mais frequente do que boa parte das drogas recreativas que ouvimos falar por aí. E com a variedade de opções de entretenimento vigentes neste período pós-bug do milênio, a novela precisa se esforçar muito para manter o interesse até dos mais aficionados pelo gênero.

Se 'O Outro Lado do Paraíso' era estapafúrdia e sem pé nem cabeça, também nos convidava diariamente a adentrar em um novo ciclo de bobagens oriundas da cabeça genial de Walcyr Carrasco. A história não parava em pé, mas também não parava em momento algum. Até os núcleos mais parecidos com a saudosa 'Zorra Total', como aquele da Ellen Rocche, sofriam constantes mudanças em suas dinâmicas.

"Aquele salgado é de que?" (Foto: Reprodução)

'Segundo Sol' prometia muito, com um mote bem interessante –cantor fracassado se finge de morto e fica milionário no decorrer do processo. Mas falhou miseravelmente na execução. Tudo é repetido em looping e supostas reviravoltas bombásticas nunca conseguem o efeito desejado. Até a tardia revelação de que Beto Falcão está vivo foi modorrenta.

A novela vai caminhando para o fim mais parecendo uma mola encolhida, como diria Lulu Santos. Todo aquele potencial desperdiçado. Tantos personagens presos a um debilitante 'Dia da Marmota'. Aproveito e faço um breve interlúdio para explicar que a frase anterior é uma referência a um filme estrelado por Bill Murray. Por algum motivo que já não lembro mais, ele acorda sempre no mesmo dia, e tem consciência disso. É uma comédia ótima, pois usa essa repetição como fonte de humor, não como um gatilho niilista para não contar história nenhuma, como é o caso da trama das 21 horas.

Mesmo quando tenta quebrar a monotonia, João Emanuel Carneiro parece absolutamente perdido. As poucas pautas sociais relevantes que 'Segundo Sol' parecia querer discutir foram esvaziadas por decisões criativas que beiram o ofensivo.

Como agravante, uma das coisas mais agradáveis de prestigiar uma boa novela é a certeza de que logo depois entrará algum entretenimento de alta qualidade no ar, mesmo que em outro canal. O período é de grave estiagem desde o fim de 'Power Couple Brasil'. Sorte que 'A Fazenda' vem aí –e até 'Segundo Sol' será uma sala de espera melhor do que o combalido 'Jornal da Record'.

Mas se a trama é justamente sobre novas chances para os vacilões que habitam este planeta, ou pelo menos parecia que era essa a proposta em algum momento, a história me parece ter encerrado possibilidade de redenção metalinguística. É hora de aceitar que não deu certo.

Para encerrar este desabafo, aviso que é a primeira vez que desisto de uma novela estrelada por Deborah Secco. Espero que a Globo um dia se envergonhe de tudo isso."

Amigo leitor, você pode ler os textos de Chico Barney diariamente no Blog do Chico Barney no UOL, além de acompanhá-lo pelo Twitter.

Bônus: veja o blogueiro interagindo com Marcos Mion, Ana Paula Minerato e Yudi Tamashiro em uma envolvente mesa redonda sobre o reality show "A Fazenda".

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002