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Carreira de apresentador nunca foi tão desvalorizada na Globo

Chico Barney

15/11/2018 10h48

Os piores anos de várias vidas (Foto: Reprodução)

Ensina a madrasta dos burros, nossa querida Wikipédia: "commodity corresponde a produtos de qualidade e características uniformes, que não são diferenciados de acordo com quem os produziu ou de sua origem".

A Globo estabelece atualmente um processo de commoditização do cargo de apresentador. Não há mais a necessidade de desenvolvimento de uma carreira em torno da função, aproveitando talentos da própria casa em momentos pontuais ao longo das temporadas.

Alguns dos principais títulos da atual linha de shows não são conduzidos por apresentadores profissionais. Em sua maioria, atores colocados para trabalhar entre uma novela e outra.

Taís Araújo em "Popstar", Lázaro Ramos, Ingrid Guimarães e quase todo o elenco de "Os Melhores Anos das Nossas Vidas", além de figuras como Sophia Abrahão e Joaquim Lopes no "Vídeo Show", têm em comum tal característica.

São nomes com forte apelo comercial, que agradam a plutocracia responsável por bancar os intervalos de seus programas. No caso dos dois primeiros, nenhuma das atrações tem pretensões maiores do que preencher horários na grade durante períodos curtos do calendário anual.

É uma estratégia meramente extrativista, sem preocupação em gerar legado –nem para a carreira dos envolvidos, tampouco para o conteúdo da Globo.

Foto: Reprodução

Com a coqueluche dos formatos enlatados, adaptados muitas vezes de maneira mambembe por estas bandas, não parece existir qualquer intenção de incentivar a criação de vozes fortes e marcantes. Tudo se resolve com atores populares que consigam decorar as regras e ler o teleprompter com alguma simpatia.

Vejo a medida como uma grande desvalorização da carreira de apresentador. Na virada do século, quando contratou profissionais gabaritados como Ana Maria Braga, Luciano Huck, Jô Soares e Serginho Groisman, interessados em empreender no nobre labor, a programação deu um salto cujos efeitos permanecem até hoje. Basta ver que continuam todos no ar –com exceção de Jô, mais por questões cronológicas do que qualitativas.

A persistente relevância de algo como o "Big Brother Brasil" só é possível graças ao inconfundível DNA de apresentadores de carreira. Pedro Bial primeiro, Tiago Leifert depois, mostram que um ponto de vista faz toda a diferença na maneira como a TV é compreendida pelo mercado e pela audiência.

Basta sintonizar na Record para prestigiar a atual temporada de "A Fazenda" e concluir a importância de enaltecer gente preparada. Com Marcos Mion no comando pela primeira vez, o reality rural ficou surpreendentemente palatável.

Por essa e por outras, torço pelo sucesso da vindoura experiência de Fernanda Gentil, que é do metiê, no entretenimento da emissora.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002