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Bizarrices em "A Dona do Pedaço" estão atrapalhando o trabalho dos atores

Chico Barney

18/06/2019 22h32

Foto: Reprodução

Foi Glória Perez quem certa vez escreveu que para curtir uma boa novela era necessário dar uma viajada. "Pobre de quem não consegue voar", escreveu no Twitter em 2013, época em que parte da audiência lamentava o tom lisérgico de "Salve Jorge".

Pois Walcyr Carrasco está apostando alto na teoria do voo dramatúrgico. "A Dona do Pedaço" é praticamente a Esquadrilha da Fumaça. A trama não faz concessões na hora de apresentar estranhas coincidências e também não se preocupa em explicar aparentes furos no roteiro.

Quando tenta resolver alguma inconsistência, fica parecendo aqueles vídeos em que os caras preenchem buracos de pias e assoalhos com macarrão instantâneo. O caso mais fascinante é o elástico argumentativo para justificar que Betty Faria é mãe do Marco Nanini, apesar da curta diferença de idade entre os atores: ora, ela não é mãe, tudo não passou de um mal entendido. A partir de julho ela será irmã. E quem quiser que aproveite.

Mas as piruetas no roteiro estão deixando a vida dos atores bastante complicada. Veja só o caso da Juliana Paes, coitada. Começou a novela como uma "menina moça" cheia de atitude e com tesão pela vida, disposta a batalhar pelo grande amor e, depois de uma tragédia no altar, fez o possível e o impossível para se tornar uma exímia empreendedora.

Eis que ocorre uma longa passagem de tempo e a protagonista Maria da Paz fica milionária. Sem qualquer explicação plausível, se tornou também a maior vacilona. Está mais inocente agora do que quando se mudou para São Paulo no clássico capítulo do Salmo 23 na Rodoviária do Tietê. E não vou nem entrar na questão do sotaque, que merece um livro inteiro do Mário Sérgio Cortella a respeito. Mas fica difícil encontrar o tom para uma personagem tão desprovida de nexo.

Paolla Oliveira também está passando por alguns perrengues. Apesar de ser a melhor personagem da novela, ainda precisa disfarçar alguns diálogos pitorescos com charminho de blogueira. São tantas bolas quadradas que a intérprete de Vivi Guedes já parece exausta. O momento da revelação que a freira gótica da Nathália Dill é sua irmã foi constrangedor de tão absurdo.

EXPECTATIVA – Gostaria de ler um livro do Mário Sérgio Cortella sobre os sotaques de Maria da Paz. (Foto: Reprodução)

O elenco de apoio também está domando um leão por dia. Quando viajou até o Espírito Santo para contratar a família de Maria da Paz para assassinar a digital influencer de Paolla Oliveira, o motorista interpretado por Osvaldo Mil virou personagem de filme do Luiz Fernando Carvalho. Em busca de vingança, trocou com seus interlocutores tantas frases clichê de bangue-bangue italiano que ficou difícil de segurar o riso.

Fato é que "A Dona do Pedaço" está muito divertida e a bizarrice em certos momentos deixa tudo ainda mais agradável. O problema é que talvez o tom da novela precisasse ser outro, para poupar os atores de manter a seriedade em passagens absurdas como as descritas acima. Um clima um pouco mais próximo de "Verão 90" ou até mesmo de "Os Trapalhões" é fundamental para facilitar o lado de todo mundo.

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Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002