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Absurda e sem sentido, "A Dona do Pedaço" é uma novela imperdível

Chico Barney

26/08/2019 23h15

Não é vingança: Maria da Incapaz quer dar uma lição na filha vilã (Reprodução)

Dei um Google no termo "instinto" e encontrei uma simpática definição por parte de Ana Lucia Santana, mestre em Teoria Literária pela USP, no site da InfoEscola: "do latim instinctu, é algo inato ao ser vivo, um tipo de inteligência no seu grau mais primitivo. Ele guia o homem e os animais que possuem um grau mais elevado em sua trajetória pela vida, nas suas ações, visando justamente a preservação do ser."

Tive essa iniciativa depois de ver o capítulo de segunda-feira da novela "A Dona do Pedaço". Walcyr Carrasco está despertando em mim os instintos mais primitivos. A novela fica mais absurda a cada dia que passa, com cenas e situações absolutamente estapafúrdias. De tão pitoresca, se tornou um programa imperdível, obrigatório. Deve ter algum algoritmo na jogada.

"Os instintos são adquiridos nas experiências vividas, no confronto com determinadas situações e nas respostas a elas, e então herdados pelas gerações posteriores", continua a explicação de Santana. Acredito que eu e tantos brasileiros nos encontremos prostrados em nossos sofás pelo fascínio com o desconhecido. As propostas de interação humana apresentadas por Carrasco toda noite são tão longe de qualquer realidade registrada que algo em nossa mente busca assistir para entender, estudar e construir meios de proteção contra tudo aquilo.

Maria da Incapaz, nossa querida protagonista, perdeu tudo depois de negar as evidências de que a filha era uma crápula. De maneira indolente, gastou uma dinheirama com coisas sem necessidade e ainda passou tudo para o nome da perigosa Josiane –até o marido. Depois de pegá-los no flagra e dar um tirambaço no ombro do rapagão, foi na mansão herdada pela filha para contar alguns spoilers da novela, como se tivesse folheado alguma revista na banca.

Depois de passar a perna na mãe, Josiane quer falir por seus próprios méritos (Reprodução)

Reenergizada pelo papo insólito, a empreendedora do absurdo resolveu retomar o trabalho. Outrora comandante de um império com várias franquias, botou a mão na massa para dar a volta por cima. Todo mundo ainda lembra muito bem que Incapaz foi responsável por cada um de seus fracassos, então fica difícil torcer por esse sucesso. Mas tudo bem.

O ápice da bizarrice, e aí acho que Carrasco se diverte muito às nossas custas, foi a última cena. As amigas da protagonista entram afobadas na cozinha, veem que ela está batendo um bolo e perguntam: "o que você está fazendo?", ao passo que ela continua batendo o bolo, dá um olhar esperançoso rumo ao oblívio e dá o arremate: "estou fazendo um bolo". Close dramático e fim do capítulo.

Não dá para dizer que é a melhor novela que já foi feita, nem que é a pior. Mas certamente é a que brinca com mais facilidade com os sentimentos e emoções do cidadão. "É determinante para a conservação da raça humana a existência do instinto, pois ele nos motiva a agir quando necessário", escreveu Ana Lucia Santana. A mestra e a raça humana que me perdoem, mas eu simplesmente não consigo mais mexer no controle remoto.

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Sobre o autor

Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002