"Bom Dia" pra quem? Jornalismo matutino da Globo é só tragédia
Chico Barney
10/09/2018 08h27
Pinheiro e Bocardi, os carismáticos profetas do apocalipse (Foto: Reprodução)
Não é fácil encontrar coragem para sair de casa depois de assistir a alguns minutos dos jornais da Globo pela manhã. A quantidade de eventos lamentáveis que são oferecidos ao telespectador, como se estivéssemos frequentando um brunch com rodízio de agruras urbanas, chega a ser claustrofóbica.
As fortes emoções começam com a programação local. Na região geográfica onde fica a sede do Blog do Chico Barney, quem comanda o show de horrores da vida real é Rodrigo Bocardi com o "Bom Dia SP". Cada vez mais confortável no papel de José Luiz Datena do futuro, o jornalista esbraveja e faz muxoxo com as intempéries da rotina na cidade grande.
Depois de lamentar o descaso da prefeitura com uma rua esburacada e ouvir as novidades sobre o trânsito na cidade, que evidentemente não estava muito bom, o apresentador assustou a parceira Glória Vanique ao bufar: "precisamos fazer umas correções". Ficou parecendo que ele estaria prestes a dar um feedback para Vanique, mas eram apenas uns nomes de partidos políticos que ele havia errado no segmento anterior.
A precariedade regional ganha novas proporções quando Ana Paula Araújo e Chico Pinheiro dão o pontapé inicial no "Bom Dia Brasil". Os problemas no asfalto e a falta de vacinas dão espaço para recordes de mortes nas rodovias durante o feriado e bandidos fortemente armados flagrados em festas na periferia.
Nem os simpáticos apresentadores conseguem disfarçar o desconforto com o bloco inicial do programa, uma sucessão indigesta de péssimas notícias. As coisas só começam a ter alguma perspectiva de melhora depois de meia hora, quando já bateu 8 horas da manhã e o cidadão trabalhador precisou correr para pegar o metrô lotado.
Alexandre Garcia desencorajando seu começo de dia (Foto: Reprodução)
O tsunami de sangue perde a força quando Bocardi ressurge para falar sobre empreendedorismo e unhas bem feitas, seguido pela luminosa presença de Jacqueline Brazil anunciando a previsão meteorológica. Mas é questão de tempo até a dura rotina de violência voltar à pauta.
Só mesmo um festival de carboidratos da Ana Maria Braga, além das dicas de meditação da Mariana Ferrão e algumas piadas sem graça Fernando Rocha, para quebrar o clima de profundo desalento. Mas logo depois vem o "Encontro com Fátima Bernardes", sempre com o risco de aparecer aquele poeta trazendo de volta a depressão matutina.
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
Sobre o autor
Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002