Sem medo do ridículo, "Verão 90" desponta como melhor novela da Globo
Chico Barney
08/02/2019 20h56
Foto: Reprodução
Novela é um negócio muito brega. Mocinha e mocinho, vilões caricatos, tramas água com açúcar. No afã de acompanhar as tendências da teledramaturgia mundial, a Globo resolveu investir pesado em novas abordagens dentro desse universo adoravelmente cretino do folhetim. O resultado tem sido quase sempre pífio.
O pretensioso vai e volta lisérgico de "Espelho da Vida" já conseguiu perder até para o embalado "Cidade Alerta" da Record, que abusa das técnicas mais rasteiras da tradição folhetinesca com histórias reais sobre pessoas desaparecidas nas periferias do país.
"O Sétimo Guardião" tropeça ao tentar fazer uma fusão entre a auto-homenagem do autor Aguinaldo Silva e essa ou aquela outra série de mistério disponível na Netflix.
Eis que "Verão 90" surge no horário das 19 horas como uma agradável lufada de ar na programação global. Uma novela das 7 que não tem a menor vergonha de ser, pura e simplesmente, uma novela das 7.
Em cima de uma estrutura básica de irmãos que se odeiam, representando o bem e o mal, ladeando uma mocinha doce e inocente, a história adiciona camadas de saborosa nostalgia dos anos 90.
Claro que relembrar a década do poperô dá um charme a mais, mas a trama está se garantindo sozinha. É o feijão com arroz sem medo de ser feliz.
De maneira tão ridícula quanto nas melhores novelas que acompanhamos desde tempos imemoriais, Cláudia Raia e Isabelle Drummond estão deliciosamente exageradas, como se estivessem fazendo participação especial em algum episódio perdido do "Sai de Baixo". Humberto Martins parece imitar o Evandro Mesquita no papel de Paulão da Regulagem da "Grande Família". Os playboys responsáveis pelo simulacro da MTV são hilários, com destaque para o retorno triunfal de Kayky Brito.
E por aí vai.
Tudo funciona perfeitamente em "Verão 90", justamente pelo despudor ao aceitar ser o que é. E é assim que se estabeleceu rapidamente como a melhor novela da atualidade. Como diria Willian Bonner, fica a dica.
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Se o amigo leitor não concorda com a minha opinião, tenho outras. Leia ótimos contrapontos:
- Nilson Xavier: Verão 90 atira para todos os lados na intenção de cativar pela nostalgia
- Maurício Stycer: Ambientada em 1990, Verão 90 erra na data ao fazer referência a Irmãos Coragem
- Patrícia Kogut: A nostalgia encanta, mas não sustenta Verão 90
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
Sobre o autor
Entusiasta e divulgador da cultura muito popular. Escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002