"Nana Caymmi ataca Chico, Gil e Caetano e não quer netas em show de pagode", avisa a chamada da entrevista que a cantora deu à Folha. Declarações divertidas, muito palavrão e alguma desconexão com a realidade garantiram grande repercussão à saborosa matéria.

Um trecho em especial, que remete à falta de disposição de ver as netas em show de pagode, pegou muito mal entre os fãs do gênero –no qual me incluo com muita alegria.

"Liguei pra Denise, minha filha, e perguntei das meninas 'Ah, elas não tão aqui, foram assistir ao show do Belo'. Eu falei: 'O quê?'. Não tenho nada contra a pessoa. Mas duas bisnetas de Dorival Caymmi!"

Pois Nana também não deveria ter nada contra o artista Belo. Trata-se de um grande vulto da música brasileira moderna, tal e qual o bisavô das garotas foi décadas atrás. Identificado com o pagode desde os tempos do Soweto, ainda durante os intensos anos 1990, o artista vem desenvolvendo consistente carreira como cantor romântico de apelo popular cada vez mais abrangente.

É bem verdade que Belo canta sobre um universo muito mais urbano que o saudoso Dorival, com propostas temáticas também antagônicas. Mas a beleza da arte sempre esteve nas possibilidades e na diversidade. Ao tratar com muxoxo a brilhante trajetória do cantor, Nana dá um tiro no próprio pé.

Muito embora esteja satisfeitíssima irritando os pássaros enquanto canta ópera e celebrando a fossa de Tito Madi, a herdeira de Dorival Caymmi teria muito a ganhar caso decidisse conhecer com mais afinco a obra poderosa de Belo.

Músicas como "Ainda é Cedo pra Dizer Bye-Bye", "Te Quero Sexy" e "Tempo de Aprender" trariam uma lufada de ar fresco à sua carreira, apontando caminhos bem mais interessantes do que a prometida nonagésima quarta regravação de qualquer coisa do Tom Jobim.

Belo e seu legado merecem respeito! As bisnetas de Dorival estão cobertas de razão.

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